laboratórios


Dá-se aqui o nome de laboratório às ações práticas realizadas com o intuito de propor o amálgama entre a ferramenta tecnológica e a proposta artística, permitindo que os resultados sejam uma contaminação dos eixos da pesquisa: arte e tecnologia.



LABORATÓRIO CORPO E CÂMERA



O laboratório Corpo e Câmera vem sendo desenvolvido desde agosto de 2009. Em seu desenvolvimento duas vertentes foram traçadas:

1- O corpo na relação com a câmera fixa

2- O corpo na relação com a câmera acoplada a este.

Na primeira vertente, o corpo na relação com a câmera fixa, foram exploradas as potencialidades da câmera quanto ao estudo de enquadramento, ângulo, planos e profundidade. Na segunda vertente, o corpo na relação com a câmera acoplada a este, foram exploradas as potencialidades do corpo, quanto ao fluxo e a variação de velocidade.

Além dessa parte prática o laboratório contou com a elaboração de textos autobiográficos, rastros da minha história pessoal, com o intuito de utilizar a autobiografia como um procedimento para a criação artística, mas sem a perspectiva de produzir um trabalho autobiográfico no sentido de realizar uma obra ou um discurso sobre o si mesmo. Esses rastros, essas idas e vindas entre Salvador (onde moro atualmente) e Fortaleza (minha cidade natal) encontraram abrigo numa frase do medievalista Paul Zumthor, do seu livro Escritura e Nomadismo:

“quando se apagará a consciência de estar em outra parte? Em outra parte que não o lugar em que se nasceu, outra parte talvez para além de uma certa imagem de si mesmo acalentada, com ou sem razão”

Essa sensação de descentramento, esse sentimento de estrangeira foi o que me motivou no segundo semestre de 2009 a investigar, através de improvisações, possibilidades de deslocamento, desequilíbrio e repetição, com base na “metáfora do nomadismo”, termo empregado pelo sociólogo francês Michel Maffesoli, “a qual pode nos incitar a uma visão mais realista das coisas, a pensá-las em sua ambivalência estrutural” (MAFFESOLI, 2001). Ou seja, pode nos levar a questionar a rigidez das estruturas, a perceber a identidade autobiográfica como um fluxo, onde “tornamo-nos conscientes de que o ‘pertencimento’ e a ‘identidade’ não têm a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda vida” (BAUMAN, 2005).

No primeiro semestre de 2010 foi definida como temática a investigação das possibilidades de trânsito, mobilidade e desordem, juntamente com o início da edição do material gravado no semestre anterior. Dentro dessa perspectiva surgiu a seguinte pergunta: como relacionar o espaço público urbano com o espaço público digital? Neste momento percebi que o trabalho, o qual tem por objetivo investigar o que venho chamando de Terceiro Corpo, começava a se desenvolver em camadas: a relação entre arte e tecnologia; a relação entre a autobiografia e a criação artística; e a relação entre o espaço físico e o espaço virtual. Tais camadas geraram, a princípio, uma relação caótica com a pesquisa, afinal, são campos muito vastos. Mas aos poucos as idéias foram se acomodando e os pontos de contato foram sendo traçados. Percebi a necessidade de trabalhar essas questões tendo como foco a interação com o outro. Para tal escolhi a plataforma do Chatroulette, desenvolvida pelo russo Andrey Ternovisky, e iniciei um novo laboratório, o qual será abordado a seguir.






AÇÃO CHATROULETTE



Em meados do primeiro semestre de 2010 comecei a investigar as possibilidades de interação através do Chatroulette. O desenvolvimento do laboratório contou com ações que tiveram como dinâmica propor ao usuário do Chatroulette uma nova percepção sobre a sua imagem, sobre signos e símbolos comumente usuados em publicidade e propaganda, com intuito de subverter a relação do usuário com a própria imagem e com a imensa quantidade de publicidade encontrada no ambiente virtual.

A plataforma do Chatroulette foi desenvolvida para ser um ponto de encontro entre amigos, e em um ano se popularizou tanto que chega atualmente a 500.000 acessos diários. Ela permite que o usuário se comunique através, prioritariamente, de áudio e vídeo com outros usuários, na proporção de 1: 1, de forma randômica. O nome prediz o movimento da roleta russa, e propõe um acesso ao imprevisível, que é ao mesmo tempo privado e público. Privado porque a maioria das pessoas acessam o Chatroulette de suas casas, revelando, por vezes, sua intimidade; e público porque se submetem ao risco de se deparar com o estranho. Inclusive estranho (strange, em inglês) é o termo utilizado pela plataforma para designar o outro com o qual se relaciona. É importante ressaltar duas características deste espaço que reproduzem sistemas já estabelecidos em outros chats: a pornografia individual e a publicidade pornográfica.

Paralelamente, foi realizada uma pesquisa de softwares que permitissem o registro de tais ações em sistema Windows XP, o qual dispunha naquele momento para realizar essas intervenções. A estratégia era encontrar um software que permitisse colocar na webcam qualquer imagem escolhida para a ação e um outro software que fosse capaz de gravar a ação realizada. Depois de várias tentativas infrutíferas, ou pelo mau funcionamento do software ou pela incompatibilidade entre os softwares, cheguei ao WebcamMax e ao Free Screen to Video. O WebcamMax é um software conhecido por gerar uma webcam falsa e utilizado para criação de tutoriais; tem como funcionalidade colocar efeitos nas imagens, exibir qualquer imagem em arquivo, exibir a tela do computador ou parte dela e reproduzir avatares com detecção dos movimentos do rosto. O Free Screen to Vídeo é um software simples e eficiente para gravar a tela do computador, e permitiu o funcionamento perfeito do WebcamMax durante as gravações.

Aos poucos fui descobrindo trabalhos desenvolvidos por outros artistas que se utilizavam da plataforma, como No Fun de Eva e Franco Mattes, os improvisos do pianista Merton ou os retratos ao vivo do desenhista israelita Paz Bernstei. O laboratório Ação Chatroulette trouxe à tona mais uma questão: como gerar possibilidades de subversão das relações que estabelecemos com o espaço ciberdigital? E realizou-se na tentativa de pincelar possibilidades de resposta.



 

OBS: A descrição desses dois laboratórios pode ser complementada pelos vídeos que estão e que serão disponibilizados no blog. Ambos os laboratórios encontram-se, atualmente (ago/2010), em fase de edição do material gravado. E vez por outra ainda refaço algumas ações do Chatroulette, que por motivos técnicos não foram gravadas em sua primeira execução.